Desde que Jesus instituiu a Eucaristia, na Santa Ceia, a Igreja Católica nunca cessou de celebrá-la, crendo firmemente na presença do Senhor na Hóstia consagrada pelo sacerdote legitimamente ordenado pela Igreja.
Nunca (em 2000 anos!) a Igreja duvidou da presença real do Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus na Eucaristia. Desde os primeiros séculos os Padres da Igreja ensinaram esta grande verdade recebida dos Apóstolos. Eles atestam a nossa fé.
São Cirilo de Jerusalém (315-386) assim falava aos fiéis, na Basílica do Santo Sepulcro:
“Na cavidade da mão recebe o corpo de Cristo; dize Amém e com zelo santifica os olhos ao contato do corpo santo (…). Depois aproxima-te do cálice. Dize Amém e santifica-te tomando o sangue de Cristo. A seguir, toca de leve os teus lábios, ainda úmidos, com tuas mãos, e santifica os olhos, a testa e os outros sentidos (ouvidos, garganta, etc.).”
Santo Agostinho (354-430) a chamava de “o pão de cada dia, que se torna como o remédio para a nossa fraqueza de cada dia”.
E ainda dizia: “Ó reverenda dignidade do sacerdote, em cujas mãos o Filho de Deus se encarna como no Seio da Virgem”. “A virtude própria deste alimento divino é uma força de união que nos une ao Corpo do Salvador e nos faz seus membros a fim de que nos transformemos naquilo que recebemos”.
Santo Hilário de Poitiers (316-367):
Ele mesmo diz: “Minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come da minha carne e bebe do meu sangue, fica em mim e eu nele” (Jo 6,56). Quanto à verdade da carne e do sangue, não há lugar para dúvida; é verdadeiramente carne e verdadeiramente sangue, como vemos pela própria declaração do Senhor e por nossa fé em suas palavras. Esta carne, uma vez comida, e este sangue, bebido, fazem que sejamos também nós um em Cristo, e o Cristo em nós. Não é isto verdade? Não o será para os que negam ser Jesus Cristo verdadeiro Deus! Ele está, pois, em nós por sua carne, e nós nele, e ao mesmo tempo o que nós somos está com Ele em Deus” (Sobre a Santíssima Trindade).
São Cirilo de Jerusalém (†386):
“Quanto a mim, recebi do Senhor o que também vos transmiti (…)” (1Cor 11,23). Esta doutrina de São Paulo é bastante para produzir plena certeza sobre os divinos mistérios pelas quais obtendes a dignidade de vos tornardes concorpóreos e consanguíneos de Cristo.
Quando, pois, ele mesmo declarou do pão: “isto é o meu corpo”, quem ousará duvidar?
E quando ele asseverou categoricamente: “isto é o meu sangue”, quem ainda terá dúvida, dizendo que não é?
Outrora, em Caná da Galileia, por sua vontade, mudara aágua em vinho, e não seria também digno de fé, ao mudar o vinho em sangue?…
É, portanto, com toda a segurança que participamos de certo modo do corpo e sangue de Cristo: em figura de pão é deveras o corpo que te é dado, e em figura de vinho o sangue, para que, participando do corpo e sangue de Cristo, te tornes concorpóreo e consanguíneo dele. Passamos a ser assim Cristóforos, isto é, portadores de Cristo, cujo corpo e sangue se difundem por nossos membros. E então, como diz São Pedro, “participamos da natureza divina” (2Pe 1,4).
Não trates, por isso, como simples pão e vinho a este pão e vinho, pois, são, respectivamente, corpo e sangue de Cristo, consoante a afirmação do Senhor. E ainda que os sentidos não o possam sugerir, a fé no-lo deve confirmar com segurança. Não julgues a coisa pelo paladar. Antes pela fé, enche-te de confiança, não duvidando de que foste julgado digno do corpo e sangue de Cristo.
Ao te aproximares, não o faças com as mãos estendidas nem com os dedos separados. Faze com a esquerda como um trono na qual se assente a direita, que vai conter o Rei. E, no côncavo da palma, recebe o Corpo de Cristo, respondendo: “Amém”. Com segurança, então, depois de santificados teus olhos pelo contato do santo corpo, recebe-o, cuidando para nada perderes… Depois, aguardando a oração, dá graças a Deus que te fez digno de tão grandes mistérios.
Conservai invioláveis estas tradições, guardai-as sem falha.
(Catequeses Mistagógicas)
São Leão Magno (400-461), Papa e doutor da Igreja:
“Talvez digas: é meu pão de cada dia. Mas este pão é pão antes das palavras sacramentais; desde que sobrevenha a consagração, a partir do pão se faz a carne de Cristo. Passemos então provar esta verdade. Como pode aquilo que é pão ser corpo de Cristo?
Com que termos então se faz a consagração e com as palavras de quem? Do Senhor Jesus. Efetivamente tudo o que foi dito antes é dito pelo sacerdote (…). Quando se chega a produzir o venerável sacramento, o Sacerdote já não usa suas próprias palavras, mas serve-se das palavras de Cristo. É, pois, a palavra de Cristo que produz este sacramento (…). Assim, pois, para dar-te uma resposta, antes da consagração não era o corpo de Cristo, mas após a consagração, posso afirmar-te que já é o corpo de Cristo.” (Os Sacramentos e os Mistérios, Lv 4, 4-6, Ed. Vozes, pág. 50-55).
Na sua “Profissão de Fé”, o conhecido “Credo do Povo de Deus”, o Papa Paulo VI afirmou:
“Cremos que como o pão e o vinho consagrados pelo Senhor, na Última Ceia, foram mudados no seu Corpo e no seu Sangue, que iam ser oferecidos por nós na Cruz, assim também o pão e o vinho consagrados pelo sacerdote se mudam no Corpo e no Sangue de Cristo glorioso que está no céu, e cremos que a misteriosa presença do Senhor naquilo que misteriosamente continua a aparecer aos nossos sentidos do mesmo modo que antes, é uma presença verdadeira, real e substancial.” (cf. Dz. Sch. 1651).
Em seguida, Paulo VI deixa claro que se afastam da fé católica aqueles que não aceitam esta verdade.
“Toda explicação teológica que procura alguma inteligência deste mistério deve, para estar de acordo com a fé católica, admitir que na própria realidade, independentemente do nosso espírito, o pão e o vinho cessaram de existir depois da consagração, de tal modo que estão realmente diante de nós o Corpo e o Sangue adoráveis do Senhor Jesus, sobre as espécies sacramentais do pão e do vinho, conforme Ele assim o quis, para se dar a nós em forma de alimento e para nos associar à unidade do seu Corpo Místico.” (cf. S. Th., III, 73, 3), (Credo do Povo de Deus, Ed. Cléofas, 1998).
Na Última Ceia, Jesus foi muito claro: “Isto é o meu corpo”.
“Isto é o meu sangue” (Mt 26,26-28). Ele não falou de “símbolo”, nem de “sinal”, nem de “lembrança”.
São Paulo atesta a presença do Senhor na Eucaristia quando afirma:
“O cálice de benção, que bebemos, não é a comunhão do Sangue de Cristo? E o pão que partimos, não é a comunhão do Corpo de Cristo?” (1Cor 10,16).
“O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse: Tomai e comei; isto é o meu corpo, que será entregue por vós; fazei isto em memória de mim. Igualmente também, depois de ter ceado, tomou o cálice e disse: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto em memória de mim todas as vezes que o beberdes.” (1Cor 11,23-29).
Naquele memorável discurso sobre a Eucaristia, na sinagoga de Cafarnaum, que São João relatou com detalhes no capítulo 6 do seu Evangelho, Jesus disse:
“Eu sou o Pão vivo que desceu do céu…Quem comer deste Pão viverá eternamente; e o Pão que eu darei é a minha carne para a salvação do mundo…O que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia… Porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue é verdadeiramente bebida.” (Jo 6,54s).
Não há como interpretar de modo diferente estas palavras, senão admitindo a presença real e maravilhosa de Jesus na Hóstia sagrada.
Lamentavelmente a Cruz e a Eucaristia foram e continuam a ser “pedra de tropeço” para os que não creem, mas Jesus exigiu até o fim esta fé. Quando os Apóstolos também queriam duvidar do mistério da Eucaristia, ele disse-lhes: “Também vós quereis ir embora?” (Jo 6,67).
Ao que Pedro responde na fé, não pela inteligência: “Senhor, a quem iremos, só Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68).
Nunca Jesus exigiu tanto a fé dos Apóstolos como neste momento.
E, se exigiu tanto, sem dar maiores esclarecimentos como sempre fazia, é porque os discípulos tinham entendido muito bem do que se tratava, bem como o povo que o deixou dizendo: “Estaspalavras são insuportáveis? Quem as pode escutar?” (Jo 6,60).