Nossa Senhora da Saúde

Nossa Senhora da Saúde
Este Ícone de Nossa Senhora da Saúde minha mãe o adquiriu no ano que eu nasci (1946) e está comigo até hoje.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Como devemos fazer o sinal da cruz?



Atualmente, a legislação para o Ocidente com relação ao sinal da cruz está contida no Cerimonial dos Bispos. Na nota de nº 81, no número 108, verifica-se uma citação do antigo ritual romano para a celebração da santa missa, que diz:

"Ao benzer-se, volta para si a palma da mão direita com todos os dedos juntos e estendidos, faz o sinal da cruz da fronte ao peito do ombro esquerdo ao direito. Quando abençoa os outros ou benze outras coisas volta o dedo mínimo para aquilo que abençoa e ao abençoar estende a mão direita mantendo os dedos juntos e unidos."

Mas, nem sempre foi assim. É evidente a legislação atual deve ser seguida, principalmente quando a matéria é litúrgica, contudo, não se pode negar que existem outras práticas devocionais por influência de outros ritos. É por isso que é necessário ir às origens do tema.

Existe uma grande probabilidade de que o sinal da cruz seja de origem apostólica. São Basílio de Cesareia diz no seu tratado sobre o Espírito Santo que existem várias tradições que foram recebidas dos apóstolos que não estão escritas nas Sagradas Escrituras. E diz mais: "para relembrar o que vem primeiro e e mais comum, quem ensinou por escrito a assinalar com o sinal da cruz aqueles que esperam em Nosso Senhor Jesus Cristo?" ou seja, o sinal da cruz, no século IV, já era tido como de origem apostólica.

O primeiro sinal claro da prática devocional do sinal da cruz está no escrito De corona militis, de Tertuliano, diz:

"Em cada caminhada e movimento, em cada entrada e saída, no vestir, no calçar, no banho, no estar à mesa, no acender as luzes, no deitar, no sentar, no lidar com qualquer ocupação, marcamos a testa com o sinal [da cruz]."

Ele está apresentando uma tradição, ou seja, algo que já se tinha costume, já era certo. Isso no final do século II, início do século III. No entanto, o sinal tal como atestado por Tertuliano possivelmente é aquele pequeno sinal da cruz feito na fronte e não esse de que foi falado. Esse gesto tem um fundamento bíblico, conforme se vê no Livro de Ezequiel, cap. 9, v. 4, no qual o profeta tem uma visão de Deus falando ao anjo: "passa no meio da cidade, no meio de Jerusalém e marca com um tao (sinal da cruz) na testa dos homens que gemem por tantas abominações que nela praticam". Trata-se, portanto, de um sinal arraigado na profecia do Antigo Testamento e não demorou para que a Igreja reconhecesse nesse ‘tao’ o sinal da cruz de Cristo.

São Gaudêncio de Bréscia disse que: "esteja a Palavra de Deus e o sinal da cruz no coração, na boca e na fronte. Em meio à comida, em meio à bebida, em meio às conversas, nas abluções, nos leitos, nas entradas, nas saídas, na alegria, na tristeza.". Apesar de ser na ordem inversa da que é utilizada hoje, esse texto ilustra a inegável relação entre a Palavra de Deus e o sinal da cruz.

Por causa dessa relação o sinal da cruz pequeno foi se estendendo. Até que se chegou na controvérsia cristológica do monofisismo (Jesus, uma só natureza), algumas pessoas, para atestar a fé de que em Jesus existem duas naturezas, passaram a fazer o sinal da cruz com dois dedos e ampliaram o sinal, para que os dois dedos foram notados.

Com o passar do tempo, surgiu a vontade de se expressar o mistério da Trindade e o das duas naturezas de Jesus, de modo que os três dedos foram unidos simbolizando a Trindade e dois dedos foram recolhidos simbolizando as duas naturezas. Por causa da riqueza desse sinal, ele permaneceu durante toda a Idade Média, inclusive no Ocidente. O Papa Inocêncio III ensina:

"O sinal da cruz deve então ser feito com três dedos, pois ele assinala sob a invocação da Trindade; a respeito da qual disse o profeta: ‘quem pendurou com três dedos a massa da terra?’ (Isaías 40,12). É assim que se desce do alto para baixo, e da direita se passa à esquerda, pois Cristo desceu do céu à terra e dos Judeus passou para os gentios. Alguns [sacerdotes], porém, fazem o sinal da cruz da esquerda para a direita, pois devemos passar da miséria para a glória, assim como Cristo passou da morte para a vida e do inferno para o paraíso, para que eles assinalem a si mesmos e os outros em uma só direção. Se olhares com atenção, também sobre os outros, faremos o sinal da cruz da direita para a esquerda, já que não os assinalamos como que dando-lhes as costas, mas apresentando-nos de frente."

Havendo tanto simbolismo nos três dedos juntos e nos dois recolhidos, como explicar, então, os cinco dedos estendidos, conforme a legislação atual determina? Eles representam as cinco chagas de Cristo, que são o sinal da cruz. Cristo, com a sua cruz, tira toda a condenação do homem (por isso, da esquerda para a direita). O sinal da cruz é um sacramental, seja na forma reduzida como na mais ampla, que deve ser usado abundantemente.

Por fim, é preciso recordar a tradição da região ibérica que assinala o pequeno sinal da cruz, antes do grande sinal da cruz pedindo a Deus o livramento do mal, com a famosa oração: "pelo sinal da santa cruz, livre-nos, Deus nosso Senhor, dos nossos inimigos."

Fazer o sinal da cruz com devoção não é um ato supersticioso, mas uma verdadeira entrega da própria vida à cruz salvadora de Cristo.

Ez 9,4 "O Senhor falou com ele: 'Percorre a cidade de Jerusalém e marca com uma cruz a testa dos indivíduos que estiverem se lamentando e gemendo por causa das abominações que se fazem no meio dela'".

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Texto em latim

Ad omnem progressum atque promotum, ad omnem aditum et exitum, ad vestitum, ad calciatum, ad lavacra, ad mensas, ad lumina, ad cubilia, ad sedilia, quacumque nos conversatio exercet, frontem [crucis] signaculo terimus. (Tertuliano, De corona militis 3,4. PL 2, 80A [211 d. C.] ).


Texto em português

Em cada caminhada e movimento, em cada entrada e saída, no vestir, no calçar, no banho, no estar à mesa, no acender as luzes, no deitar, no sentar, no lidar com qualquer ocupação, marcamos a testa com o sinal [da cruz].


Texto em latim

Sit sermo Dei, et signum crucis in corde, in ore, in fronte, inter cibos, inter pocula, inter colloquia, in lavacris, in cubilibus, in ingressu, in egressu, in laetitia, in moerore. (São Gaudêncio de Bréscia, Sermo VIII, De evangelii lectione primus, PL 20, 890).


Texto em português

Esteja a Palavra de Deus e o sinal da cruz no coração, na boca e na fronte. Em meio à comida, em meio à bebida, em meio às conversas, nas abluções, nos leitos, nas entradas, nas saídas, na alegria, na tristeza.


Texto em latim

Quomodo signum crucis sit experiendum


Texto em português

Como se deve realizar o sinal da cruz


Texto em latim

Est autem signum crucis, tribus digitis exprimendum, quia sub invocatione Trinitatis imprimitur; de qua dicit profeta: ‘Quis appendit tribus digitis molem terrae?’ (Isaiae 40, 12). Ita quod a superiori descendat in inferius, et a dextra transeat ad sinistram, quia Christus de coelo descendit in terram et a Judaeis transivit ad gentes. Quidam tamen signum crucis a sinistra producunt in dextram quia da miseria transire debemus ad gloriam sicut et Christus transivit de morte ad vitam et de inferno ad paradisum, presertim ut seipsos et alios uno eodemque pariter modo consignent. Constat autem quod cum super alios signum crucis impriminus ipsos a sinistris, consignamus in dextram. Verum si diligenter attendas, etiam super alios, signum crucis a dextra producemus in sinistram, quia non consignamus eos quasi vertentes dorsum, sed quasi faciam praesentantes. (Inocêncio III, De sacro altares mysterio, 2, 45. Pl 217, 825).


Texto em português

O sinal da cruz deve então ser feito com três dedos, pois ele assinala sob a invocação da Trindade; a respeito da qual disse o profeta: ‘quem pendurou com três dedos a massa da terra?’ (Isaías 40,12). É assim que se desce do alto para baixo, e da direita se passa à esquerda, pois Cristo desceu do céu à terra e dos Judeus passou para os gentios. Alguns [sacerdotes], porém, fazem o sinal da cruz da esquerda para a direita, pois devemos passar da miséria para a glória, assim como Cristo passou da morte para a vida e do inferno para o paraíso, para que eles assinalem a si mesmos e os outros em uma só direção. Se olhares com atenção, também sobre os outros, faremos o sinal da cruz da direita para a esquerda, já que não os assinalamos como que dando-lhes as costas, mas apresentando-nos de frente.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

As dez pragas do Egito


As dez pragas do Egito (Êx 7,14-12, 36)

Por volta de 1250 a.C. estava o povo de Israel cativo no Egito e sujeito a duros trabalhos forçados. Atendendo ao clamor dos infelizes escravizados, o Senhor decretou libertá-los, por meio de Moisés, chefe do povo, enviado à presença do Faraó, para intimar o monarca, em nome de Deus, a libertar os israelitas. Mas o Faraó não se rendeu ao pedido; por isto, o Senhor houve por bem demonstrar-lhe o seu poder, desencadeando dez pragas sobre o Egito, das quais somente a décima conseguiu dobrar a dureza de coração do rei. Eis a lista dos flagelos assim ocasionados:

1. Conversão das águas do rio Nilo em sangue envenenado: Êx 7,17-25.

2. Invasão de rãs nos rios e nas casas do Egito: 7,26-8, 11.

3. Onda de mosquitos: 8,12-15.

4. Sanha de moscas venenosas ou de vespas: 8,l6-28.

5. Peste sobre o gado: 9,1-7.

6. Tumores e pústulas nos homens e no bestiame: 9,8-12.

7. Geada: 9,13-35.

8. Invasão de gafanhotos: 10,1-20.

9. Trevas sobre o país: 10,21-27.

10. A morte dos primogênitos dos egípcios: 12,29s.

O Autor Sagrado mostra que essas pragas foram uma intervenção explícita do Senhor. Mas segundo os exegetas, a imaginação humana, no decorrer dos séculos parece ter exagerado a índole extraordinária dos acontecimentos.

Os estudos mostram que as pragas do Egito foram flagelos que acontecem naquele país por fatores naturais e por causa de circunstâncias particulares, os quais seriam longos para serem explicados aqui. Essas pragas foram pois milagres, não tanto em si mesmos, mas pelo modo como se verificaram: tiveram origem, sim, por ordem de Moisés, no momento predito por ele, e cessaram por ordem dele; desenvolveram-se com força fora do comum, poupando, porém, a região de Gessen, onde estavam os israelitas (cf. 8,18; 9,6s.26).

Como já dissemos, Deus, sem graves razões, não viola às leis da natureza; procura, antes, servir-se do curso habitual da natureza para realizar os seus maravilhosos desígnios.

A persistência do Faraó em não atender o pedido de Moisés, apesar das pragas, insinua que o monarca não se impressionou pelas nove primeiras pragas; porque estas não lhe pareciam fenômenos até então muito extraordinários. Veja que os seus magos também faziam alguns efeitos extraordinários.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Os reis podiam ser excomungados pelos Papas?


Entre os reis da Idade Média, Felipe I da França, Godofredo de (Lorena), Felipe Augusto, Luís VII, Afonso IX de Leão e muitos outros foram excomungados pelos Papas. Luiz VII, João sem-Terra e Frederico de Hohenstafen sofreram a punição do interdito, que atinge a região inteira; neste caso os sinos silenciam, não se administravam os Sacramentos, só o Batismo; não se celebravam casamentos nem enterros religiosos e não se fazia o registro civil; a vida social acabava e deixavam de existir domingos e dias de festa. O que mostra que a Igreja não foi tão aliada aos poderosos, como dizem.

fonte: http://cleofas.com.br/os-reis-podiam-ser-excomungados-pelos-papas/

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Santa Isabel de Portugal (Rainha)


RAINHA SANTA ISABEL DE PORTUGAL

4 DE JULHO

"Santa Isabel, mãe da paz e da pátria!
Vós que triunfais com Cristo nos Céus, dai-nos a paz."

Ó serva de Deus preclara,
Tua oferta foi aceite,
Pois, como a virgem prudente,
Tinhas sempre, diligente,
Cheia a lâmpada de azeite.

O odor de Cristo exalando,
Por onde quer que passavas
Fazia-se a noite dia,
E era oiro e pedraria
Cada acção que praticavas.

O exemplo da tua vida
Em tudo foi exemplar,
Pois que na seara divina,
Como a Rute peregrina,
Bem soubeste respigar.

Escolhendo Jesus Cristo
Como único Senhor,
Tudo por Ele deixaste
E o coração lhe entregaste,
Consagrada ao seu amor.

Ó Jesus, Filho da Virgem,
Ó Maria, Virgem-Mãe,
E tu, eleita de Deus,
Que já reinas lá nos Céus,
Vinde em nosso auxílio.
Ámem.


* * *

Santa Isabel de Portugal nasceu em 11 de Fevereiro de 1270, em Saragoça - Espanha; era filha de Pedro III, rei de Aragão. Recebeu o seu nome em homenagem à sua tia, Santa Isabel da Hungria, canonizada anos antes, e de quem se esperava que Isabel herdasse a bondade e a santidade. Aos 12 anos casou-se com o Rei Dinis, de Portugal.

Educada no seio de uma família religiosa, a Rainha Santa Isabel observava com rigor os jejuns recomendados pela Igreja e, durante a Semana Santa, fazia obras de extrema piedade e devoção. Colaborou para implantar em Portugal a devoção a Nossa Senhora da Conceição, a quem recorreu pedindo auxílio para impedir uma guerra civil, liderada por seu filho Afonso, em rebelião aberta contra o pai.Dotava os conventos do reino com muitas esmolas, principalmente o de Santa Clara de Coimbra.

Mandou construir um hospício para os pobres em Coimbra, um hospital para crianças doentes e enjeitadas em Santarém e uma casa para recolhimento e regeneração das mulheres perdidas de Coimbra. Recebia em palácio jovens pobres e alimentava-os, dando-lhes dinheiro e condições para que se casassem.

O Rei Dinis adoeceu em 1324 e foi cuidado por sua esposa pessoalmente até a morte, em 7 de Janeiro de 1325. Após o enterro do marido, a Rainha Isabel fixa residência em Coimbra e toma o hábito da Ordem de Santa Clara. Em Junho de 1336, resolve partir para Estremoz, a fim de encontrar seu filho o Rei Afonso IV, em guerra com seu neto Afonso IX, rei de Castela. É desaconselhada da viagem devido à longa distância, ao calor e à sua idade, mas a empreende. Chega doente à fortaleza de Estremoz; logo lhe aparece uma pústula no braço que lhe causa febres. Morreu, rezando, na noite de 4 de Julho, após receber os últimos sacramentos.

Contra a vontade da corte, seu filho realiza-lhe o desejo de ser enterrada no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra. Devido aos inúmeros milagres ocorridos após a morte de Santa Isabel, o Rei Manuel I pede a sua beatificação, e o Papa Leão X, em 1516, declara-a Bem-aventurada, dando permissão para a celebração de sua festa na diocese de Coimbra.

Em 1556, em virtude de outros milagres atribuídos à Rainha, o culto estende-se por todo o reino de Portugal. Em 1560, Ana de Meneses, abadessa do Mosteiro de Santa Clara, funda a Confraria da Rainha Santa. O Papa Gregório XIII, em 1581, concede diversas graças e indulgências aos associados desta confraria.

Em 1612, uma comissão vem de Roma a Coimbra para dar início ao processo de canonização da Rainha.

Na sequência de uma enchente do Rio Mondego, a comunidade de religiosas foi abrigada num novo Mosteiro (onde se encontra o actual) e trasladaram os restos mortais de Santa Isabel.

Abriram-lhe então o túmulo, 276 anos após a sua morte e descobriram a sua urna intacta. Esta foi levada em procissão para o novo Mosteiro. Ao abrirem a urna, constatou-se que o seu corpo estava incorrupto e exalava um aroma suave.

No dia 25 de Maio de 1625, festa da Santíssima Trindade, o Papa Urbano VIII canoniza a Rainha Santa Isabel.
* * *
Ainda hoje o seu corpo se encontra incorrupto, apenas com a pele ligeiramente seca, no Mosteiro de Santa Clara em Coimbra:

Aspecto geral do Mosteiro onde se encontra o corpo da Rainha Santa Isabel.

Porta de entrada do Mosteiro de Santa Clara.

Imagem de Santa Isabel, no exterior do Mosteiro, com o olhar sobre a cidade de Coimbra.

Fonte: http://saudedalma.blogspot.com.br/2011/07/rainha-santa-isabel-de-portugal.html


Mais história da santa

Uma Rainha de Portugal, de nome Isabel, ficou conhecida por sua bondade e abnegada prática da caridade.

Ocorre que seu marido, o Rei D. Diniz não gostava das excursões da Rainha, pelas ruas da miséria.

Muito menos das distribuições que ela fazia entre os pobres. Não podia admitir que uma mulher nobre deixasse o trono das honras humanas para se misturar a uma multidão de doentes, famintos e mal vestidos.

A bondosa Rainha, no entanto, burlava a vigilância de soldados e damas de companhia e buscava a dor nos casebres imundos, levando de si mesma e de tudo o mais que pudesse carregar do palácio.

Não levava servas consigo, pois isto seria pedir a elas que desobedecessem às ordens reais.

Era humilhante, segundo o seu marido, o que ela fazia. Como uma Rainha, nascida para ser servida, realizava o trabalho de criados, carregando sacolas de alimentos, roupas e remédios?

Certo dia, ele mesmo a foi espreitar. Resolveu surpreendê-la na sua desobediência. Viu quando ela adentrou a despensa do palácio e encheu o avental de alimentos.

Quando ela se dirigia para os jardins do palácio, no intuito de alcançar a estrada poeirenta, nos calcanhares da fome, ele saiu apressadamente do seu esconderijo e perguntou:

Aonde vai, senhora?

Ela parou, assustada no primeiro momento. E, porque demorasse para responder, ele alterou a voz e com ar acusador, indagou:

O que leva no avental?

Levemente ruborizada, mas com a voz firme, ela finalmente respondeu:

São flores, meu senhor!

Quero ver! Disse o rei, quase enraivecido, por sentir que estava sendo enganado.

Ela baixou o avental que sustentava entre as mãos e deixou que o seu conteúdo caísse ao chão, num gesto lento e delicado.

Num fenômeno maravilhoso, rosas de diferentes tonalidades e intensamente perfumadas coloriram o chão.

Consta que o Rei nunca mais tentou impedir a rainha da prática da caridade.

sábado, 22 de junho de 2013

As sepulturas na pré-história EB



Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 306 – Ano 1987 – p. 444

Em síntese: As mais antigas sepulturas da pré-história datam de 80.000 a.C. (período paleolítico inferior). Revelam a existência, no homem pré-histórico, de espiritualidade e de senso religioso; com efeito, sepultando seus mortos, os antigos julgavam que eles sobrevivam o que está ligado à crença em Deus ou na Divindade, que assegura ao homem a vida póstuma. Assim o senso religioso, a fabricação de instrumentos de pedra lascada e a produção do fogo são os primeiros sinais da inteligência humana sobre a face da Terra. A religião da racionalidade ou da inteligência humana desde que ela aparece no mundo. Note-se que os animais irracionais não sepultam seus mortos.

As pesquisas de paleontologia têm permitido mais e mais reconstituir os inícios do ser humano sobre a face da terra. É certo que se trata de setor de estudos ainda obscuro e talvez impenetrável em muitos de seus aspectos, pois a própria passagem do tempo destruiu documentos e monumentos que revelariam algo dos primórdios da humanidade.

Um dos pontos que ultimamente têm vindo à baila, é o das sepulturas da pré-história. Examinemos os dados arqueológicos e procuremos ler o seu significado.

Os dados arqueológicos

A pré-história é o período que abrange as atividades do homem anteriores ao aparecimento da escrita, isto é, anteriores a 8.000 a.C..

aproximadamente. Compreende os períodos da Idade da Pedra, em que os homens usavam exclusivamente armas e instrumentos de pedra, sem recurso ao bronze e ao ferro. Nesse uso da pedra, há aperfeiçoamento paulatino, de modo que se distinguem:

a idade paleolítica; os mais antigos instrumentos de pedra têm cerca de 2.500.000 anos. O homem criou então balas, martelos, machados de pedra; descobriu a produção do fogo; vivia da caça de animais e da coleta de frutas e raízes que encontrava. Morava em cavernas, abrigos naturais ou ao ar livre; a idade mesolítica; a idade neolítica.

As linhas divisórias entre essas três épocas da Idade da Pedra são diversamente assinaladas pelos autores, dada a exigüidade de elementos disponíveis para se fazerem cálculos. Mas isto não importa ao tema que aqui nos interessa: as sepulturas da pré-história.

As mais antigas que conheçamos, datam de 80.000 a.C. Para as épocas anteriores a esta data, não temos vestígios explícitos; e isto, por vários motivos: 1) quanto mais recuamos no tempo, mais escassos são os documentos preservados: 2) por ocasião das escavações arqueológicas, o próprio trabalho de remoção de entulhos e terra contribui para deslocar ossadas e instrumentos; assim o que os arqueólogos podem observar, já não tem as suas características típicas originais (como seriam as de uma sepultura); a mensagem dos fósseis torna-se então incompreensível; 3) em vez de sepultar em covas abertas pela mão do homem, os antigos podiam sepultar em depressões do terreno o que contribui para descaracterizar as sepulturas (…).

Hoje conhecem-se cerca de quinze sepulturas da Idade da Pedra – o que é considerado muito significativo; conseguiram atravessar milênios sem se desfazer pela ação das chuvas, da erosão, dos terremotos, das guerras, etc. Eis alguns dos seus principais sítios:
La Chapelle-aux-Saints (França), Grimaldi (Itália), Arena Candida (Itália), Shanidar (Iraque), Qafzeh (perto de Nazaré, Israel)… Quanto mais o período da Pedra avança no tempo, mais profusos aparecem os ritos funerários: as pinturas das cavernas e os artifícios múltiplos que cercavam os mortos, revelam cuidados especiais para com os corpos dos defuntos.

Verifica-se que os cadáveres não eram abandonados, sem mais, à deterioração natural, como se daria no caso de um cão ou de uma ave. Todos os esqueletos da Idade da Pedra, aparecem deitados sobre o lado direito ou o esquerdo, encolhidos, com as mãos e os pés lembrar o feto no útero materno ou o adulto adormecido; não foram lançados à terra de qualquer maneira, mas mereceram
carinho e solicitude da parte dos sobreviventes. Junto ao cadáver colocavam utensílios diversos: armas, estatuetas de Vênus (símbolo da Vida e da fecundidade), jóias (como dentes perfurados, conchas perfuradas, braceletes, pérolas, espinhas de peixe, colares…).

Ao ser sepultado, o cadáver era salpicado de ocre vermelho (minério de ferro) ou era deitado em leito de ocre; este, por sua cor, seria símbolo do sangue e, por conseguinte, da vida. Às vezes, o ocre era colocado explicitamente diante da boca e das fossas nasais, como símbolo do sopro de vida.

Especialmente interessante é a sepultura das duas crianças de Spungir, na URSS: foram enterrados juntas, uma delas tendo a seu lado uma grande lança, oito dardos, dois punhais, dois bastões furados; a outra tinha também uma grande lança comigo, mas apenas dardos e um punhal. Muitas pérolas se achavam em torno da cabeça, dos braços, das pernas, do peito e sobre os pés de cada esqueleto. Traziam bonés muito “ricos” com carreiras de pérolas de marfim de diversas formas dispostas paralelamente,
caninos de raposa polar, semi-anéis talhados em chifre de mamuth (possivelmente destinados a prender os cabelos ou as caudas de raposa que ornamentavam a cabeça). Os punhos tinham braceletes finos; e os dedos, anéis de marfim. Sobre o peito de um dos esqueletos, encontrou-se uma figura de cavalo em forma de placa.

Merece atenção ainda a sepultura dita “do Jovem Príncipe” em Arena Candida (Itália): em torno da cabeça, encontraram-se glóbulos perfurados, jóias outrora cozidas sobre as suas vestes, um grande punhal de pedra em sua mão.

Em Shanidar (Iraque), encontraram-se em torno do esqueleto sedimentos com vestígios de pólen – o que significa que fora o cadáver enterrado sobre um leito de flores vivas e coloridas (…) Isto há cerca de 50.000 anos!

Parece que a ornamentação e os utensílios variavam de acordo com a idade, o sexo e as funções desempenhadas outrora pelo defunto.

À medida que as populações pré-históricas foram assumindo a vida sedentária, constituíram cemitérios. Em conseqüência, foram descobertas verdadeiras necrópoles em Teviec e Hoëdic (Bretanha, França), Muge (Portugal), Vedbaek (Dinamarca), Mallaha (Israel).

Indaga-se agora:

Que pensar?

Qual terá sido a razão do sepultamento dos mortos desde a pré-história?

Em geral, os cientistas estão de acordo em reconhecer que tais sepulturas não têm valor apenas utilitário ou pragmático (atender à higiene, por exemplo), mas exprimem a convicção de que os antepassados sobrevivem no além; precisam de ser acompanhados, guarnecidos, equipados (se não, poderiam voltar?…). A crença na sobrevivência, por sua vez, está ligada à crença em Deus (entendido como os antigos o podiam entender); os defuntos estariam em demanda da Divindade ou já a teriam encontrado… As mitologias dos povos históricos desenvolvem amplamente as crenças do homem pré-histórico, apresentando as “peripécias” ou “aventuras” da vida póstuma.

O Prof. Cécile Lestienne escreveu a respeito o artigo “Funérailles d’antan” na revista “Science et Avenir”, nº 480, fevereiro 1987, pp. 54-59, onde tece as seguintes considerações:

“Podemos afirmar que os sepultamentos intencionais estão obrigatoriamente associados à crença no Além, numa vida póstuma ou num renascimento…? Nosso conhecimento das sociedades arcaicas e primitivas poderia sugerir-no-lo. Mas diz Leroi-Gourhan: Até um ateu aceita ser enterrado…

Não obstante, parece que essa sepulturas são o testemunho de uma certa espiritualidade. É certo que elas não são devidas apenas a cautelas de higiene. Por que os antigos se dariam ao trabalho de enterrar alguém, quando seria mais simples lançar o cadáver numa fossa um tanto afastada?

Mas ainda mais significativos do que esta reflexão são outros indícios:… os corpos não foram enterrados de qualquer modo. O seu sepultamento exigiu cuidados e atenção dos sobreviventes” (pp. 56s).

Assim o Professor Lestienne mesmo acaba reconhecendo que os resquícios funerários da pré-história são o indício da espiritualidade do homem, desde os primórdios da sua pré-história: “Há ao menos 80.000 anos que os homens enterram os seus mortos. Estudando como nossos ancestrais cuidavam dos seus defuntos, os pesquisadores da pré-história esboçam o nascimento da espiritualidade” (revista citada, p. 54).

Um estudioso cristão não pode deixar de valorizar enormemente esses túmulos pré-históricos. São típicos do ser humano, pois nenhum animal, por mais aperfeiçoado que seja, sepulta os seus mortos; o homem, ao contrário, desde que aparece sobre a face da Terra, prática a inumação. Com isto também fica patente que o senso religioso é outra nota congênita no homem desde os albores da existência humana; a religião não é um fenômeno tardio da criatura amedrontada ou amesquinhada pelas forças da natureza, mas é o testemunho da inteligência desde que ela pode ser identificada na penumbra da pré-história. A fabricação de instrumentos lascados em vista de um objetivo a produção do fogo e o sepultamento dos mortos são as primeiras manifestações da racionalidade humana na pré-história.


sábado, 4 de maio de 2013

Beatificação e Canonização

Como é feito o processo de Canonização de um Santo na Igreja Católica



04/05/2013 - BEATIFICAÇÃO DE NHÁ CHICA
O pequeno município mineiro de Baependi (400 km de Belo Horizonte) vai ser palco neste sábado (4) da cerimônia preparada pela Igreja Católica para oficializar a beatificação de Nhá Chica, a leiga Francisca Paula de Jesus, primeira negra a ser declarada beata no Brasil.
O ritual de beatificação acontecerá no Santuário Nossa Senhora da Conceição, onde estão hoje os restos mortais da candidata à santa.
Filha livre de uma ex-escrava, Nhá Chica nasceu em meados de 1810, em Santo Antônio do Rio das Mortes, distrito de São João Del Rei (MG). Mudou-se para Baependi aos oito anos, com o irmão, quatro anos mais velho, e a mãe, que morreu quando ela tinha 10 anos, deixando-os sozinhos.
Em Baependi, viveu uma vida de caridade, recebendo pessoas para dar conselhos e ajudando os mais necessitados, o que lhe conferiu o título de "mãe dos pobres".
Quando morreu, em 1895, Nhá Chica já tinha fama de santa, mas o reconhecimento oficial demorou a vir. A comissão em prol de sua beatificação só teve início quase 100 anos mais tarde, em 1989.
Antes de se tornar santo, o candidato é reconhecido como servo de Deus, venerável e beato, com o reconhecimento de um milagre. O título de santo só é concedido a que tem dois milagres reconhecidos.
Nhá Chica passou a ser considerada pela Igreja Católica como serva de Deus em 1991 e, no começo de 2012, foi reconhecida como venerável.
Há apenas dois santos no Brasil: Madre Paulina, que nasceu na Itália e veio para o Brasil aos 10 anos, foi canonizada em 2002; e Frei Galvão, que nasceu em Guaratinguetá (SP), se tornou o primeiro santo nascido no Brasil em 2007.
Milagre em Caxambu
O milagre que permitiu o início do processo de Nhá Chica foi a cura de um grave problema de nascença no coração da professora aposentada Ana Lúcia Meirelles Leite, de Caxambu (MG).
Quando foi diagnosticada com o problema cardíaco, em 1995, Ana Lúcia foi orientada por médicos de Varginha (MG), Belo Horizonte e São Paulo a passar por uma cirurgia imediatamente. Ela então rezou e pediu a intervenção de Nhá Chica. Logo depois, teve febre e não pôde ser operada. Seis meses depois, quando decidiu remarcar a operação, novos exames constataram que ela estava curada.
Em outubro de 2011, a pedido do Vaticano, uma comissão de médicos validou a cura como milagre. O reconhecimento foi assinado em junho de 2012 pelo então papa Bento XVI.
Brasil tem 70 candidatos a santos
Mais de 70 pessoas têm boas chances de se tornarem santos no Brasil, sendo que 30 delas se tornaram beatas coletivamente, por terem sido brutalmente mortas durante uma missa no interior do Rio Grande do Norte, em 1645.
O levantamento foi obtido junto ao Vaticano pela freira Célia Cadorin, 86, responsável pelo processo de beatificação de Madre Paulina e Frei Galvão. A postuladora ou "advogada dos santos", hoje aposentada, que pertence à Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, fundada por Madre Paulina em 1890, já viajou o Brasil todo atrás de milagres que provassem a santidade de seus "clientes" e viveu na Itália durante 14 anos para pesquisar a vida deles.
"O postulador é um religioso do local onde a pessoa nasceu que é indicado pela Igreja para defender o processo de canonização", explica irmã Célia. "Ele é a alma de toda a causa. Se ele se empenha, a causa anda", avalia ela.
Além de postuladora, irmã Célia é uma das miraculadas de Madre Paulina, nome dado àquele que recebe um milagre. Quando tinha 13 anos, teve complicações no pulso direito após sofrer uma queda no convento de Nova Trento (SC). Depois de colocar no machucado um cravo tirado do caixão de Madre Paulina por uma tia de irmã Célia, que era freira da mesma congregação, seu pulso foi curado, desinchando em menos de 24 horas.
Etapaspara a santidade
Servo de Deus
Título recebido logo que a causa é iniciada. A vida do servo de Deus é minuciosamente investigada a fim de se comprovar sua fama de santidade
Venerável
O candidato recebe o decreto de "virtudes heróicas" ou "martírio". A vida continua sendo pesquisada para se encontrar milagres ou comprovar que a morte foi santa

Beato
Se ao menos um milagre é comprovado pelo postulador e reconhecido pelo Vaticano, o venerável é beatificado
Santo
Se dois milagres, ou mais, forem comprovados, o beato é finalmente canonizado e se torna um santo
Em entrevista ao UOL, no convento onde também viveu Madre Paulina quando morou em São Paulo, a religiosa explica o processo que envolve a beatificação.
Segundo ela, uma causa começa a partir do momento em que uma pessoa ganha fama de santa na região onde viveu e morreu. É o caso, por exemplo, de Nhá Chica, cujo túmulo era frequentado por muitos devotos antes mesmo de uma causa ser iniciada. "Então um bispo, um padre ou uma associação verifica se há fundamentos para a abertura de uma causa e entra com o pedido junto à Congregação para a Causa dos Santos, no Vaticano, com uma descrição biográfica sobre a vida, as virtudes e a fama de santidade", disse.
Feito isso, o Vaticano dá uma resposta negativa ou um nihil obstat, que indica que "nada impede" que a causa seja iniciada, o que dá início então à fase diocesana, quando um bispo diocesano local instala um tribunal eclesiástico para investigar a vida do candidato a santo e provar que ele merece o título.
Uma comissão histórica é formada para recolher documentos sobre a vida da pessoa. "Nessa fase são ouvidos aqueles que conheceram, conviveram ou ouviram falar dele para provar que tem fama de santidade", explicou irmã Célia, que diz gostar de professoras aposentadas para fazer essa parte do trabalho. Os documentos são classificados em religiosos, referentes à família e ao trabalho, arquivos civis e escolares, entre outros.
Na hora de dar os depoimentos, as testemunhas fazem um juramento de dizer a verdade, inclusive se o candidato a santo tinha defeitos. "Tudo é muito esmiuçado e muito sério. Não é faz de conta. É tudo científico, tem que ser provado", disse.
Duas vias de todos os documentos são entregues pelo postulador à Congregação dos Santos, no Vaticano, que, após análise, publica o primeiro decreto de validade do processo, o que torna a pessoa uma serva de Deus.
"Começa, então, a fase romana, mais longa e difícil", afirmou a religiosa, quando os documentos passam por uma comissão de historiadores do Vaticano, uma comissão de teólogos e uma comissão de bispos e cardeais. "Por fim, é marcada uma audiência com o papa."
Para confirmar o milagre atribuído ao candidato, médicos sem ligação com o Vaticano pedem exames e analisam documentos sobre o diagnóstico (constatação da doença), o prognóstico (como a doença evoluiria), a terapia recomendada e se ela precisou ser ou não seguida. Outra comissão, a teológica, analisa os mesmos itens somados à invocação feita para se alcançar a cura.
"Para ser considerada um milagre, a cura deve ser rápida, duradoura e sem sequelas", lembra irmã Célia. "Se os médicos concluírem que a cura não tem explicação científica nenhuma e se os teólogos constatarem que a graça foi alcançada por intermédio do venerável, o papa publica um terceiro decreto e ele passa a ser beato."

Santo
Quando um segundo relato de milagre passa por todo esse processo e é aprovado, o beato é finalmente canonizado e vira santo.
Anos atrás, o Vaticano exigia dois milagres para beatos e quatro para santos. No entanto, isso mudou com o papa de João Paulo 2º, que chegou a afirmar na época que "o Brasil precisa de muitos santos". Com as novas regras, as chances dos candidatos brasileiros à canonização aumentaram.
"O que foi ótimo, pois quem faz um milagre faz dois", brinca irmã Célia.