Celebra-se a memória no dia 17/10
Santo Inácio de Antioquia: Aquele que portava Cristo no
seu coração
O Coliseu romano guarda até hoje o calor dos feitos heróicos que se passaram em
sua arena. Ali, a graça do martírio penetrou profundamente e legou à
Cristandade uma de suas mais gloriosas páginas. O exemplo do primeiro bispo de
Antioquia encerra toda a doçura e a força com que a Santa Igreja lançou
suas divinas raízes.
Quem já teve a oportunidade de viajar para Roma e conhecer seus antiqüíssimos
monumentos - obras-primas da inteligência e da capacidade de nossos ancestrais
- certamente terá experimentado uma forte atração ao deparar com o anfiteatro
Flaviano, mais conhecido pelo nome de Coliseu.
Sólido e bem edificado, com suas galerias de arcos tipicamente romanos, ele
atravessa os séculos, insensível ao tempo, como imagem de um passado que poucos
sabem admirar. Com efeito, hoje em dia o Coliseu é objeto da incessante
curiosidade dos turistas que o visitam durante todo o ano. Muitos formam
intermináveis filas para nele ingressar, com o desejo de fotografá-lo e depois
vangloriar-se de ter estado num dos locais mais famosos do mundo; outros
percorremno com o mero intuito de constatar seu valor artístico e estrutural;
poucos são, porém, os que para lá se dirigem na intenção de rezar.
O imperador Vespasiano, invejoso da afetuosa lembrança que o povo guardava a
respeito de César Augusto e sabendo que este, antes da sua morte, prometera
construir um imenso anfiteatro que excedesse em esplendor todos os edifícios do
mundo, concebeu a idéia de realizar este plano e assim rivalizar em fama com
aquele seu predecessor. No segundo ano após sua ascensão ao trono (72 d.C.),
Vespasiano iniciou sua obra. Entretanto, também a ele não seria dado ver o
objeto de suas ambições, e a morte colheu-o antes de ser completada a
construção, que só seria dedicada no ano 80 d.C., por seu filho Tito. Este
último teve grande parte na ereção do anfiteatro, empregando nos trabalhos
aproximadamente 50 mil prisioneiros, trazidos de sua vitoriosa campanha na
Judéia.
Construída especialmente para ser palco daqueles jogos de gladiadores que os romanos
tanto apreciavam, a gigantesca mole estava, porém, reservada para servir de
quadro a combates de fé e de heroísmo muito mais gloriosos do que desprezíveis
eram aqueles espetáculos pagãos! Se os divertimentos do Coliseu deixaram uma
mancha no passado por causa das horríveis cenas de crueldade ali representadas,
outros fatos, sob o ponto de vista sobrenatural, constituem uma das mais belas
páginas da história da Santa Igreja.
Pedestal de bem-aventurados
É com espírito de piedade que deve penetrar no Coliseu o verdadeiro peregrino
católico. Bastará permanecer em silêncio por um curto tempo, para perceber os
imponderáveis e inverossímeis de fé, força e coragem que habitam sob essas
numerosas arcadas. É evocativo esse edifício, no qual cada pedra tem um belo
fato para contar e até as gramas e os musgos mais recentes desejariam dizer uma
palavra sobre aquele passado feito de sangue, dor e glória. Contemplando mais
detidamente essa arena, outrora pedestal de tantos bem-aventurados, podemos
ainda divisar os compartimentos onde as feras eram mantidas na fome. Vê-se
também ao lado destes as celas que aprisionaram os que hoje constituem uma
verdadeira legião, no gozo da visão beatífica. Essas veneráveis ruínas, nas
quais refulge um misterioso brilho sobrenatural, parecem cantar, ao longo dos
séculos, a célebre frase latina: sine sanguine non fit remissio; lembrando aos
homens que, para ser verdadeiros discípulos de Jesus Cristo, é necessário
primeiro segui- Lo até as ignomínias do Calvário para depois participar do
triunfo da ressurreição. Sim, foi sobre essas pedras benditas, banhadas de
sangue católico, que nasceram as raízes da era em que a filosofia do Evangelho
dominou sobre todos os povos.
Ouçamos, pois, atentos, um dos emocionantes feitos que esses valos, essas
muralhas e arcadas têm a nos narrar.
Inácio, o Teóforo
Corria o ano 106 da era cristã. O imperador Trajano festejava sua vitória sobre
Decébalo, rei da Dácia. Querendo manifestar seu reconhecimento aos deuses, a
quem atribuía seu recente sucesso, Trajano organizou uma perseguição contra os
cristãos que negassem a existência dessas divindades. Entre os condenados
estava um venerável ancião, presa de grande valor, - pois se tratava do bispo
de uma das cidades de maior importância naquela época - varão que gozava de
muita estima e autoridade entre os fiéis da Ásia Menor, por ter sido discípulo
do evangelista São João e designado pelo próprio São Pedro para assumir o cargo
naquela Igreja: Inácio de Antioquia.
Segundo uma antiga tradição, o primeiro encontro entre o imperador e Inácio
dera-se quando este último, sabendo da passagem do césar por sua diocese, fora
apresentar-se voluntariamente a ele. Submetido a um interrogatório no qual
Trajano tratou-o de "espírito malvado", respondeu o santo com majestade:
"Ninguém pode chamar a Teóforo de espírito malvado". "Quem é o
Teóforo ou portador de Deus?" perguntaram-lhe."É aquele que leva a
Cristo em seu peito..." Instado pelo imperador para que se explicasse mais
sobre essa afirmação, o homem de Deus declarou: "Está escrito: ‘Habitarei
e andarei no meio deles'" (2 Cor 6, 16). Assim, por essas palavras, ele
mesmo dava testemunho de um milagre que viria a ser confirmado após o seu
martírio.
Trajano ordenou, pois, que Inácio fosse acorrentado e conduzido a Roma, sob a
custódia de dez soldados, para ali ser lançado às feras no anfiteatro Flaviano.
Dolorosa viagem, desfile triunfal
Grande foi a consternação dos fiéis ao conhecerem a sentença que recaíra sobre
seu amado pastor. Ele, pelo contrário, regozijava-se e não deixava de dar
graças a Deus por ter sido achado digno de tão grande misericórdia. Já antes da
partida, embarcando no porto de Selêucia, a notícia de sua detenção
espalhara-se por aquelas regiões e de todas as partes acorriam os cristãos para
vê-lo passar e dar um último adeus àquele que os precederia no Reino dos Céus.
A dolorosa viagem viu-se, então, transformada em verdadeiro desfile triunfal.
Em Esmirna, o bispo São Policarpo, acompanhado de seu rebanho, acolheu- o com
manifestações de homenagem e respeito. Também as comunidades de Éfeso, Trales e
Magnésia foram- lhe ao encontro em grande multidão, desejosas de pedir sua
bênção e testemunhar os padecimentos daquele atleta de Cristo. Ele, de seu
lado, não esquecera a missão que o Senhor lhe confiara e continuava a exercer
seu ministério, apesar de ter as mãos apertadas por grilhões. A muitos batizou
pelo caminho, a outros edificou pelas suas palavras cheias de unção, e a um
número incontável inflamou na caridade, arrastando-os com seu exemplo a acompanhá-lo
no martírio.
Seu zelo incansável levou-o a escrever sete cartas, dirigidas àquelas mesmas
Igrejas que tão fervorosamente o haviam recebido. Seus escritos, verdadeiros
tesouros de doutrina e espiritualidade, podem ser considerados como "a
segunda formulação doutrinária cristã" 1.
Zeloso pregador da doutrina
Uma de suas principais preocupações estava na união que os fiéis deviam manter
com Jesus Cristo, através da legítima hierarquia: bispos e presbíteros. Assim,
exortava ele na carta aos magnésios: "Esforçai-vos por ficar firmes na
doutrina do Senhor e dos apóstolos, para que tudo quanto fizerdes tenha bom
êxito na carne e no espírito, pela fé e pela caridade, no Filho, no Pai e no
Espírito, no princípio e no fim, com vosso digno bispo e a bem entretecida
coroa espiritual de vosso presbitério, juntamente com os diáconos agradáveis a
Deus. Sede submissos ao bispo e uns aos outros como, em sua humanidade, Jesus
Cristo ao Pai, e os apóstolos a Cristo e ao Pai e ao Espírito, para que a união
seja corporal e espiritual." 2 Em outra passagem, aconselhava a seu amigo
Policarpo: "Tem cuidado pela unidade, pois nada há de melhor."3
Ao bispo de Antioquia é devida a honra de ter dado à Santa Igreja, por primeira
vez, o glorioso título de católica: "Onde estiver o bispo, ali estarão
também as multidões, da mesma forma que onde estiver Jesus Cristo, ali estará a
Igreja Católica".
A dolorosa viagem transformou-se em verdadeiro desfile triunfal. Por onde
passava as comunidades cristãs iam ao seu encontro em grande multidão,
desejosas de pedir sua benção
4 Também foi ele o defensor de um ponto que só viria a ser elevado à categoria
de dogma séculos mais tarde: o parto virginal da Santa Mãe de Deus. Assim
escreveu aos efésios: "ao príncipe deste mundo foi ocultada a virgindade
de Maria, seu parto e também a morte do Senhor".5 Aos seus caros
esmirnenses também afirmava: "Crendo de igual modo que verdadeiramente
nasceu da Virgem, foi batizado por João ‘para que nele se cumprisse toda a
justiça.'" 6
A doutrina de Inácio era clara e segura; ele a haurira dos lábios daquele
discípulo a quem tantos mistérios haviam sido revelados ao repousar a cabeça
sobre o peito do Verbo Encarnado e nos longos anos de convivência com Maria
Santíssima.
"Procuro aquele que morreu por nós!"
Entretanto, se as cartas deste insigne doutor manifestam toda a riqueza de seu
ensinamento teológico, uma outra ainda, aquela enviada aos romanos, deixa
entrever o sublime ardor de sua alma, elevada aos píncaros da mais pura
mística. Tendo-lhe chegado a notícia de que os fiéis de Roma procuravam
interpor toda sua influência para afastar dele a mortal condenação, apressou-se
em dirigir- lhes, desde Esmirna, uma comovedora súplica: "Tenho escrito a
todas as Igrejas e a todas elas faço saber que com alegria morro por Deus,
contanto que vós não mo impeçais. Suplicovos: não demonstreis por mim uma
benevolência intempestiva. Deixai-me ser alimento das feras, porque, através
delas, pode-se alcançar a Deus. Sou trigo de Deus: que seja eu triturado pelos
dentes das feras para tornar-me puro pão de Cristo!
Instigai, ao contrário, os animais para que neles encontre o meu sepulcro e
nada reste de meu corpo para não ser pesado a ninguém, depois de adormecer.
Então serei verdadeiro discípulo de Cristo, quando o mundo não mais vir sequer
o meu corpo. Suplicai a Deus por mim, que por este meio me torne uma hóstia
para Deus. [...]
Que nada, tanto das coisas visíveis quanto das invisíveis, segure o meu
espírito, a fim de que eu possa alcançar a Jesus Cristo. Que o fogo, a cruz, um
bando de feras, os dilaceramentos, os cortes, a deslocação dos ossos, o
esquartejamento, as feridas pelo corpo todo, os duros tormentos do diabo venham
sobre mim para que eu ganhe unicamente a Jesus Cristo! [...]
Procuro aquele que morreu por nós: quero aquele que por nós ressuscitou. Meu
nascimento está iminente. Perdoai- me, irmãos! Não me impeçais de viver, não
desejeis que eu morra, pois desejo ser de Deus. [...]
Vivo, vos escrevo, desejando morrer. Meu amor está crucificado. Não há em mim
um fogo que busque alimentarse da matéria, apenas uma água viva e murmurante
dentro de mim, dizendome em segredo: ‘Vem para o Pai!' [...]
Se for martirizado, vós me quisestes bem. Se for rejeitado, vós me
odiastes." 7
Expressões de tão heróica caridade só poderiam brotar de um coração tomado pela
graça do martírio de maneira superabundante. Com efeito, assim nos explica São
Tomás de Aquino: "Entre todos os atos de virtude, o martírio é aquele que
manifesta no mais alto grau a perfeição da caridade. Porque tanto mais se
manifesta que alguém ama alguma coisa, quanto por ela despreza uma coisa amada
e abraça um sofrimento. É evidente que entre todos os bens da vida presente
aquele que o homem mais preza é a vida e, ao contrário, aquilo que ele mais
odeia é a morte, principalmente quando vem acompanhada de torturas e suplícios
por medo dos quais ‘até os próprios animais ferozes se afastam dos prazeres
mais desejáveis', como diz Agostinho. Deste ponto de vista, é evidente que o
martírio é, por natureza, o mais perfeito dos atos humanos, enquanto sinal do
mais alto grau de amor, segundo a palavra da Escritura: ‘Não existe maior prova
de amor do que dar a vida por seus amigos.'" 8.
Um lutador resignado só pode ser traidor
Esta excelência da caridade que pervadia o interior de nosso santo, só tendia a
crescer à medida em que se sucediam as etapas da viagem que o aproximavam da
tão almejada meta. Embarcando no porto de Dirraquio - sempre sob o olhar
vigilante dos guardas, os quais ele mesmo chamava de "dez leopardos",
a causa dos maus tratos que lhe infligiam - enfrentou uma longa travessia,
bordejando o sul da Itália e, por fim, desembarcou em Óstia, a 20 de dezembro
do ano 107, último dia das festas públicas que se celebravam em Roma.
Na orgulhosa metrópole dos imperadores comemorava-se ainda o triunfo de Trajano
sobre os dácios. Durante 123 dias haviam-se prolongado os espetáculos nos quais
morreram 10.000 gladiadores e 12.000 feras. O bispo Inácio era esperado com
ansiedade pela turba pagã, pois as vítimas ilustres e de aspecto venerável
exerciam maior atração nos jogos circenses. Por isso, os soldados para lá
conduziram-no sem demora. Os cristãos receberam-no às portas da cidade, com
manifestações de sincera admiração e respeito. Alegravam-se ao vê-lo, mas
lamentavam, ao mesmo tempo, que lhes fosse arrebatado tão cedo. Rogaram-lhe,
então, que obtivesse de Deus o favor de que algumas relíquias suas lhes fossem
deixadas após o martírio. Embora contra sua vontade - pois ele desejava ser
devorado por inteiro - o santo varão acedeu bondosamente em fazerse cargo de
pedido tão filial.
Arrastando suas cadeias, Inácio atravessou as ruas pavimentadas da capital do
império: ao longe podia divisar os imponentes muros do Coliseu dominando o
vale, circundado pelos montes Palatino, Esquilino e Célio. Aquele edifício
representava para ele o termo de seus anelos, a realização de suas esperanças
mais íntimas, a consumação de seu holocausto. Caminhava apressadamente, não com
a resignação de um condenado, mas impelido pelos ardores de entusiasmo que não
mais cabiam dentro de sua alma, convicto de que o lutador resignado é traidor.
Aquele edifício servir-lhe-ia de túmulo e de altar, ao passo que seria o
pedestal de onde seu espírito voaria ao céu.
"Desejaria ser triturado como o trigo"
Uma numerosa multidão acorrera ao Coliseu para presenciar o sangrento
espetáculo e se deliciar com o destroçamento do corpo do mártir. Este, sereno e alegre, não manifestou a menor vacilação
quando as grades foram abertas e entrou no vasto anfiteatro, à espera do
trágico momento em que as bestas ferozes fossem soltas. As vaias e os escárnios
daqueles pagãos para ele nada significavam. Pelo contrário, eram-lhe uma razão
a mais para crer na invisível coorte de bem-aventurados a esperá-lo com uma
palma e uma coroa.
Ouve-se um hurra na turbamulta, sucedido por silêncio e um grande suspense: os
famintos leões irromperam na arena e, impetuosos, avançaram sobre a pura e
inocente vítima para devorá-la. Entretanto, com a majestade e império que
possuem as almas tomadas pelo Espírito Santo, o mártir estancou-as a meio
caminho, com um simples gesto de mão.Num movimento solene, ajoelhou-se e,
elevando os braços ao céu, clamou em alta voz: "Senhor, aqueles que me
acompanharam e que são também vossos filhos, pediram-me que rezasse a fim de
que algo lhes sobre deste martírio, para estímulo de sua fé. Eu, porém,
desejaria ser triturado como o trigo para vos ser oferecido como hóstia pura.
Senhor, fazei a vontade deles e também a minha, eu vos peço".
Após a oração, assistida com estupefação pela horda criminosa e pagã e pelas
feras, com respeito, eis que ainda mais grandioso e nobre gesto permitiu a
estas últimas sair de seu miraculoso encantamento e dar vazão aos instintos de
sua voraz natureza.
Em poucos minutos, lá entravam os gladiadores a agrilhoar aqueles animais que
acabavam de saciar seu bestial apetite com as carnes de um novo serafim. A
arena vazia, o espetáculo terminado, retirou-se vagarosa e frustrada a
assistência. Que demonstração de fé e de nobreza haviam presenciado!
"Põe-me como um selo em teu coração"
Os cristãos por ali ainda permaneceram à espera do cair do sol. E quando o
manto da noite passou a cobrir a cidade de Roma, penetraram na arena à procura
das poeiras tornadas relíquias ao serem embebidas pelo sangue daquele que agora
os precedia na glória celeste.
Um milagre! Encontraram intactos um fêmur e o coração! Tomados de sobrenatural
entusiasmo, caminharam sem medir distâncias, rumo às catacumbas e depois de
algumas horas, constataram, à luz das lamparinas, outro milagre: num círculo,
as veias e artérias do coração do santo mártir, constituíam as célebres
palavras: Iesus Nazarenus, Rex iudeorum.
Inácio, o Teóforo, o portador de Deus, atestara seu nome com aquele comovedor
prodígio. Seu coração amante fora subjugado e modelado pelo Amado, segundo
aquele pedido do Cântico: "Põe-me como um selo em teu coração" (Ct 8,
6). Nem as tribulações, nem as correntes, nem os suplícios, nem a própria morte
o haviam podido separar do amor de Cristo. Por sua santa vida, rica em
pregações, em caridade e exemplos, assemelhara-se ao Divino Mestre, imitando- o
enquanto verdadeiro Pastor das ovelhas. Por sua generosa entrega levada ao
extremo da imolação, alcançara para sempre aquela "única coisa
necessária" (Lc 10, 42): o convívio eterno com Aquele a quem só procurara
na Terra, Jesus!
A este santo varão de Deus bem poderiam ser aplicadas as belas palavras de um
autor medieval: "Forte é o amor, que tem poder para privarnos do dom da
vida. Forte é o amor, que tem poder para restituir-nos o gozo de uma vida
melhor. Forte é a morte, poderosa para despojar-nos do revestimento deste
corpo. Forte é o amor, poderoso para nos roubar os despojos da morte e no-los
entregar de novo.
Forte é a morte, a ela o homem não pode resistir. Forte é o amor que pode
vencê-la, embotar-lhe o aguilhão, travar- lhe o ímpeto, quebrantar-lhe a
vitória." 9
E uma vez mais caiu a noite sobre a grandiosa mole do Coliseu. As areias do
circo pagão, regadas pelo sangue daquele que portara a seu Redentor no peito,
transformaram-se de novo em campo arado e fértil, de onde germinariam muitos
outros filhos da Esposa Mística de Cristo.